terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O Futuro do Trabalho: mas o que é que os humanos irão fazer ? (1) (Diário de Aveiro, supl. Economia, 12/1/2016)

Durante muitos anos os robôs reais estavam nas fábricas na assemblagem de componentes electrónicos, armas, carros, etc. Contudo, nos últimos anos (três ?), algo mudou. Drones, carros sem condutor e robôs com duas pernas a andar tornaram-se, subitamente, reais.
Por outro lado, a lista de postos de trabalho susceptíveis de serem automatizados cresce diariamente, com a evolução da inteligência artificial (IA). Esta, aumentou a sua capacidade cognitiva: ganhou no xadrez em 1999 e Jeopardy! em 2011, a consciência situacional e a destreza física. Atente-se no seguinte: se a condução é automatizada, a entrega será rápida e fácil de seguir; empresas como a Amazon estão a fazer fortes investimentos para automatizar totalmente toda a sua cadeia de abastecimento.
Há quem preveja que em 2045 as máquinas serão capazes de fazer muito do trabalho que os seres humanos fazem. Então, há uma questão que se coloca: se as máquinas poderão fazer muito do trabalho que o ser humano faz, o que irão fazer os seres humanos?
Biil Gates e Stephen Hawking já falam dos perigos do incremento das máquinas inteligentes. Este último, chegou a firmar que a “Inteligência artificial completa pode significar o fim da raça humana”.
Esta questão: como é que o Homem se vai ocupar na presença de máquinas inteligentes, é um dos desafios centrais que a sociedade hoje enfrenta, apesar de não estar muito presente nos media tradicionais. Por isso, o MIT (Massachusetts Institute of Technology) criou, em 2014, o Future of Life Institute, precisamente para estudar o “lado escuro” da IA.
Actualmente, é bem claro, veja-se o estudo da Goldam Sachs por Hugo Scott-Gall, que o capital de investimento intensivo está “afunilado” para as empresas de base tecnológica: internet, software, hardware, serviços TI, etc. Isto é, os investidores acreditam nestas “novas” áreas – smart watch, carros sem condutores, realidade virtual, drones para entregas ... - que as empresas de tecnologia “desvendaram” como áreas de expansão.
Para criar um futuro melhor, precisamos de máquinas que façam as coisas mais fáceis, mas também precisamos de tempo para cuidar dos outros que, hoje, não são bem servidos.
As tecnologias digitais e a robótica recompensam-nos com produtividade e libertam-nos das inumeráveis tarefas repetitivas. Infelizmente, como a nossa economia está actualmente organizada, estas facilidades são também grandes problemas. Como podemos manter os preços de mercado num mundo com excedente de produtividade? Como podemos empregar (trabalho ?) pessoas quando a IA está “ocupando” postos de trabalho?
(1) título emprestado (tradução livre) de um artigo de Moshe Y. Vardi http://bit.ly/1geYbLj


João Orvalho, Professor do Politécnico de Coimbra, jgorvalho@gmail.com

Sem comentários: