terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Aveiro: CET (1) (Diário de Aveiro, supl. Economia, 26/1/2016)

GECA – Grupo de Estudos de Comutação Automática, criado em 1950 na cidade de Leiria, transferido para Aveiro em 1955. Em 1972 o GECA transformou-se em CET – Centro de Estudos de Telecomunicações, participando na constituição da Universidade de Aveiro. A PT Inovação foi criada em 1999, mas herdou a história, as instalações e o processo de desenvolvimento de inovação deste percurso: CET.
A actividade do CET foi fundamental para o desenvolvimento das telecomunicações em Portugal, tendo dinamizado investigação, desenvolvimento e transferência de tecnologia e de conhecimentos científicos, promovendo e prosseguindo uma estreita colaboração com a actividade empresarial e com a Universidade. O CET afirmou a sua presença no sector das telecomunicações nacionais, tornando-se um importante pólo de desenvolvimento regional e constituindo uma contribuição inegável para a Indústria do conhecimento aplicada às tecnologias da informação e da comunicação em Portugal.
Em 2016, o CTO da Altice Labs garante que a PT Inovação continua a existir como entidade jurídica e que o vínculo das pessoas continua a ser com a empresa atual, embora a marca passe agora a ser Altice Labs, que agrega as operações de inovação em Portugal mas, também, em Israel, França, República Dominicana e Estados Unidos.
Segundo a imprensa económica, é em “Aveiro que a Altice fixou o seu quartel-general para a inovação e tecnologia”. É uma excelente noticia, uma fantástica conquista de uma cidade-região e, muito especialmente, da Universidade de Aveiro, que coopera intensamente com várias empresas e vários centros de I&DT da Região. Esta, é uma consequência natural da identificação ou complementaridade dos seus domínios e áreas de investigação com as áreas de especialização tecnológica do tecido empresarial.
Contudo, o modelo anterior da PT Inovação muito ancorado em serviços externos, num modelo de outsourcing, vai ser “cortado”. Qual vai ser o impacto na região ? Apesar de o ecossistema empresarial em torno da PT Inovação ser dinâmico, competente e resiliente, poderá, no entanto, sofrer um duro golpe.
A Altice Labs precisa, todos precisam, de uma rede engenheiros talentosos e satisfeitos com os seus trabalhos. Terá, pois, que ter atenção ao que se está a passar em Silicon Valley: um estudo (TINYPulse) de satisfação com 5000 engenheiros e outros profissionais do desenvolvimento de software, no ano passado, evidenciou que muitos deles sentiam-se “alienados, presos, subvalorizados e frustrados”.
(1) Registo de interesses: o meu pai foi um técnico dos CTT. Aqui, em Aveiro, passou bastante tempo da sua vida profissional. Por isso, cedo comecei a “ouvir” e a contactar com o CET dos CTT’s e com Aveiro.


João Orvalho, Professor do Politécnico de Coimbra, jgorvalho@gmail.com

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O Futuro do Trabalho: mas o que é que os humanos irão fazer ? (1) (Diário de Aveiro, supl. Economia, 12/1/2016)

Durante muitos anos os robôs reais estavam nas fábricas na assemblagem de componentes electrónicos, armas, carros, etc. Contudo, nos últimos anos (três ?), algo mudou. Drones, carros sem condutor e robôs com duas pernas a andar tornaram-se, subitamente, reais.
Por outro lado, a lista de postos de trabalho susceptíveis de serem automatizados cresce diariamente, com a evolução da inteligência artificial (IA). Esta, aumentou a sua capacidade cognitiva: ganhou no xadrez em 1999 e Jeopardy! em 2011, a consciência situacional e a destreza física. Atente-se no seguinte: se a condução é automatizada, a entrega será rápida e fácil de seguir; empresas como a Amazon estão a fazer fortes investimentos para automatizar totalmente toda a sua cadeia de abastecimento.
Há quem preveja que em 2045 as máquinas serão capazes de fazer muito do trabalho que os seres humanos fazem. Então, há uma questão que se coloca: se as máquinas poderão fazer muito do trabalho que o ser humano faz, o que irão fazer os seres humanos?
Biil Gates e Stephen Hawking já falam dos perigos do incremento das máquinas inteligentes. Este último, chegou a firmar que a “Inteligência artificial completa pode significar o fim da raça humana”.
Esta questão: como é que o Homem se vai ocupar na presença de máquinas inteligentes, é um dos desafios centrais que a sociedade hoje enfrenta, apesar de não estar muito presente nos media tradicionais. Por isso, o MIT (Massachusetts Institute of Technology) criou, em 2014, o Future of Life Institute, precisamente para estudar o “lado escuro” da IA.
Actualmente, é bem claro, veja-se o estudo da Goldam Sachs por Hugo Scott-Gall, que o capital de investimento intensivo está “afunilado” para as empresas de base tecnológica: internet, software, hardware, serviços TI, etc. Isto é, os investidores acreditam nestas “novas” áreas – smart watch, carros sem condutores, realidade virtual, drones para entregas ... - que as empresas de tecnologia “desvendaram” como áreas de expansão.
Para criar um futuro melhor, precisamos de máquinas que façam as coisas mais fáceis, mas também precisamos de tempo para cuidar dos outros que, hoje, não são bem servidos.
As tecnologias digitais e a robótica recompensam-nos com produtividade e libertam-nos das inumeráveis tarefas repetitivas. Infelizmente, como a nossa economia está actualmente organizada, estas facilidades são também grandes problemas. Como podemos manter os preços de mercado num mundo com excedente de produtividade? Como podemos empregar (trabalho ?) pessoas quando a IA está “ocupando” postos de trabalho?
(1) título emprestado (tradução livre) de um artigo de Moshe Y. Vardi http://bit.ly/1geYbLj


João Orvalho, Professor do Politécnico de Coimbra, jgorvalho@gmail.com