sábado, 31 de maio de 2008

A Falta de Cooperação (1)

Após um período de retiro, retomo a actividade neste blog. A paragem não se ficou a dever a nenhuma depressão, motivada pela grave crise económica, de valores e de ideias inovadoras. Hoje, perdeu-se (ou adiou-se?) a hipótese de iniciarmos um ciclo para redução do estado. Por isso, iniciarei uma série de post sobre a "falta de cooperação".

Segundo a Wikipédia, a enciclopédia livre, a “Cooperação, no contexto da economia e sociologia, é uma relação de entreajuda entre indivíduos e/ou entidades, no sentido de alcançar objectivos comuns, utilizando métodos mais ou menos consensuais”. Ora, a falta de cooperação é um elemento de explicação corrente sobre insucessos, problemas, lacunas, défices, dificuldades, etc. Vejamos alguns casos exemplificativos.
No site da Presidência da República, a propósito do desenvolvimento da biotecnologia, diagnostica-se que este dependerá dos progressos realizados em três vertentes fundamentais, dos quais saliento “o combate à fragmentação (traduzida pela falta de cooperação entre o sistema de investigação científica e a indústria, pela falta de cooperação entre empresas europeias e pela falta de cooperação entre instituições de investigação europeias)”.
Numa recente Conferência Internacional sobre o ensino da Matemática, os Professores desta disciplina evidenciaram que o “falarem mais entre eles”, quer os de escolas diferentes quer os que leccionam em ciclos diferente (primeiro, segundo, etc), resultaram muitos exemplos de boas práticas. Sendo esta colaboração recente, retenho uma nota do jornal Público (8.5.2008) com declarações de uma professora sobre a falta de cooperação com outros professores de uma escola vizinha à sua: “Claro que já podia ter feito este contacto, mas sabem como nós, os professores, somos tão distraídos”.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

lockdown

De "O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: LOCKDOWN" sobre como "... inundar o país de licenciados sem qualidade, criar uma imagem artificial de sucesso quando o sistema está podre, corromper os bons professores, dar oportunidades imerecidas aos maus, forçar para o estrangeiro os melhores alunos...".
Há um sentimento de facilitismo que está a crescer, a ganhar corpo e a ficar muito presente em muitos sectores da sociedade. A blogoesfera está ser o espaço de comunicação livre destes sentimentos. Não faltará muito para começarem a aparecer os casos concretos ...

terça-feira, 6 de maio de 2008

Novas prepotências nas IES

Escrevia J. Cadima Ribeiro no seu Universidade alternativaConstruída como o foi a lei, havia o risco de “a montanha parir um rato”. Pois bem, a um mês do final do prazo que a lei conferia às IES para adequarem os seus estatutos ao novo enquadramento legal, não creio arriscar muito com a afirmação de que as piores expectativas estão em vias de ser confirmadas Acrescento, ainda há pior: com a ameaça de fome e outras nuvens cinzentas, a precariedade dos docentes aumentou, assim como a postura prepotente de, alguns, dirigentes no activo. Mais ainda, os alunos começam a revoltar-se com os resultados práticos de Bolonha, ainda por cima vão sentido, cada vez mais, o peso das propinas. Desmobilizam dos orgãos, escrevem em blogs e listas de email o seu descontentamento. As posturas prepotentes, que não promoveram um debate alargado dos novos estatutos, não conseguem esconder certos tiques: fecham os canais de comunicação aos alunos, desvalorizam o seu descontentamento e ignoram sinais resultantes dos números do desemprego de licenciados. Que fazem, muitos dirigentes, para contrariar o abandono e o estado de desmotivação de muitos alunos, especialmente dos sectores mais castigados? Nada. Vão continuar a enganá-los? Vão, fechando-se, prepotentemente , no poder.


domingo, 4 de maio de 2008

Sem comentários: "Não reprovemos os alunos, diz a OCDE" - de Cartas ao Director do Público (4.5.08)

«A propósito do artigo de primeira página no PÚBLICO de 30 de Abril, deixem-me contar-vos uma pequena história verídica: sou professora de Inglês numa escola secundária. Há tempos, um aluno de 10.º ano, nível 6 da língua inglesa, procurava desesperadamente no dicionário, palavra a palavra, durante um teste, tudo o que não sabia.A propósito do artigo de primeira página no PÚBLICO de 30 de Abril, deixem-me contar-vos uma pequena história verídica: sou professora de Inglês numa escola secundária. Há tempos, um aluno de 10.º ano, nível 6 da língua inglesa, procurava desesperadamente no dicionário, palavra a palavra, durante um teste, tudo o que não sabia. Vendo que estava a perder muito tempo, abeirei-me dele e pedi-lhe que me dissesse o que procurava porque estava a perder muito tempo. Procurava a palavra "mas"! Fiquei perplexa e respondi-lhe: "Então não é but?" Agradeceu-me e, mal eu virei as costas, chamou-me e disse-me: "Já agora, professora, podia dizer-me como se diz "o". E eu: "o" de o, a, os, as?" Sim, foi a resposta!
Não estou a brincar, juro. Acontece que este aluno NUNCA tinha tido uma única nota positiva a Inglês desde o 5.º ano de escolaridade. Chamei a mãe que, ingenuamente, me confirmou que, como ele, "não dava para o Inglês", já lhe tinha dito que estudasse as outras disciplinas e deixasse aquela de lado.
Na mesma turma, de 27 alunos, havia excelentes alunos na disciplina, outros que tinham explicação, outros que andavam no Instituto de Línguas há anos, etc. Como é que no fim do ano, por mais esforços que o professor faça, se passa um aluno destes que nem sequer compreende uma palavra do que eu digo nas aulas? No secundário, como é sabido, as disciplinas são de passagem obrigatória, uma a uma.
E falam da Finlândia! O primeiro-ministro esteve na Finlândia a ver as escolas e veio de lá encantado. Eu conheço bem o sistema finlandês e por isso me pergunto: será que não reparou que, dentro da sala de aula, há outro professor só para ajudar estes alunos e não fazer os outros perderem tempo de aprendizagem? Será que a OCDE sabe que as famosas aulas de apoio em Portugal são facultativas ao nível do secundário? Será que a OCDE sabe que as aulas de apoio em Portugal não são "tempos lectivos" no novo Estatuto da Carreira Docente, ou seja, "ensina-se" mas não se está a "leccionar"? Será que os pais dos outros países estudados pela OCDE dizem aos filhos para deixarem uma ou duas ou três disciplinas de lado porque "não dão para aquilo"?
Não brinquem com o ensino e com os professores, se faz favor. Venham, incógnitos, disfarçados, escondidos ou às claras, ver o que se passa nas nossas escolas. Por favor, não se deixem enganar por aqueles que julgam que, por decreto, boa vontade, caridade cristã, se passam alunos que nunca perceberam o que significa estudar.
O Presidente da República espanta-se com a ignorância dos jovens em termos políticos e cívicos; aos professores já nada os espanta. Nem mesmo quando um jovem, com cinco anos completos de estudo de Inglês, não sabe dizer but!
E, já agora, aproveito para acrescentar: se as notas dos nossos alunos contam para a nossa avaliação, e uma vez que o Inglês nem sequer tem exame nacional, não irá acontecer que os piores professores de entre toda a classe não começarão a passar os alunos que não sabem dizer but e terão uma excelente avaliação, e os melhores, os que ainda sabem o que estão a fazer, serão sacrificados pelos seus princípios deontológicos?»
Carmo Gago da Silva, professora
Setúbal

sábado, 3 de maio de 2008

Jacarandás em Coimbra

Os jacarandás em Coimbra estão a começar a florir. A não perder!

Porque se fazem reformas?

No Economia do Público, de 2.5.2008, um politico ex-ministro, tecnocrata reputado com muitas responsabilidades em politicas desenvolvidas e decisões tomadas - Arlindo Cunha - afirmou o seguinte:
(pergunta de José Manuel Rocha) "Em todas as reformas há uma grande diferença entre as razões que os responsáveis avançam e aquilo que de facto os pressionou a avançar com o processo."
(resposta de Arlindo Cunha)
"Os ministros nunca invocam as dificuldades orçamentais nem as pressões externas para justificarem as reformas. São sempre feitas, no discurso oficial, para dar resposta a problemas de cidadania. Bem-estar animal, questões de equilíbrio ambiental, segurança alimentar, contrariar a desertificação, equidade. Mas isto é apenas o discurso para legitimar a reforma que foi feita por outras razões - pressão orçamental interna e pressões externas."
Delicioso!
A reforma de Bolonha tá explicada.