terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

DIGITAL: devemos ensinar os nossos filhos a criar software e não apenas a usá-lo (Diário de Aveiro, supl. Economia, 9/2/2016)

Há muitas vantagens para começar a programar "cedo": 7, 8, 9 ... anos de idade. Começar a dividir as tarefas em acções mais simples e a pensar logicamente, o mais cedo possível,  contribuiu para desenvolver a competência das nossas crianças para resolverem problemas. O pensamento abstrato e a compreensão da matemática, também sairão enriquecidos.
Neste sentido, em Portugal, a vertente de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) do currículo do ensino básico (1º e 2º ciclo) é pobre, não inspira e só afasta. Não é um problema exclusivo de Portugal, quer os EUA quer o Reino Unido enfrentaram problemas semelhantes, contudo, há muito que a sociedade civil encontrou caminhos para contrariar esta situação: os “Code Club” (Clubes de Programação) em Inglaterra, os “The Computer Clubhouse” nos EUA e o movimento Coderdojo nascido na Irlanda, que é hoje uma Fundação com Dojos por todo o globo. Estes bons exemplos de organizações, sem fins lucrativos, que funcionam depois do horário lectivo, com tutores voluntários, tem cativado muitas empresas em toda a Europa, que,  pelo exemplo dos seus CEO’s, estão a avançar com voluntários para estas acções. É neste quadro, que o Reino Unido desde o ano lectivo de 2014/2015 iniciou a aplicação de um curriculo nacional de computação nas escolas do 1º e 2º ciclo, com alunos desde os 5 anos de idade.
Neste movimentos, na generalidade dos casos, o currículo segue a ferramenta de programação visual, com blocos como se fossem peças de lego, criada pelo MIT: o Scratch, desenvolvido por uma equipa do Lifelong Kindergarten group do MIT Media Lab , liderada por Mitch Resnick. Enquanto criam projectos no Scratch, as crianças (e não só) estão a aprender a programar, ie estão a programar para apreender, pois, enquanto aprendem a programar, são estimuladas e motivadas para aprenderem outras assuntos, criando-se muitas oportunidades de aprendizagem, não só como funcionam os computadores, mas, também, relativas às matérias tratadas. De facto, apreendem de forma prática e motivante a razão de ser dos conceitos num contexto significativo.
Os jovens, enquanto desenvolvem estes projectos de programação, também estão a desenvolver competência do processo de design, de como tratar um ideia: gerir o momento da chamada faísca de uma ideia e de como transformá-la num projecto completo e funcional, ou seja, estão a desenvolver os princípios básicos do processo de concepção e de como experimentar com novas ideias, pegando em algo complexo e dividi-lo em partes mais simples. Assim como, apreender a colaborar com outros em tarefas de um projecto; lidar com os problemas; desenvolvendo soluções para corrigir os erros; manter a determinação, não desistindo, encontrar caminhos alternativos; ser persistente e manter a perseverança nos momentos difíceis.


João Orvalho, Professor do Politécnico de Coimbra, jgorvalho@gmail.com

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