A
Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) acusou a Volkswagen (VW) de enganar
os testes de emissões para meio milhão de seus carros vendidos nos EUA. Foi com
software fraudulento que os carros a diesel da Volkswagen e Audi manipularam os
testes de emissões. A EPA descreveu o software da Volkswagen como um "dispositivo
manipulador", fazendo que os carros aquando dos testes em laboratório
cumprissem os padrões de emissões, mas durante a operação normal emitam óxido
de azoto (NOx), até 40 vezes, superior ao valor padrão.
A
fraude nos testes de regulação automóvel no EUA tem uma longa história, sendo a
VW reincidente. Contudo, este escândalo é único, quer pela sua dimensão, quer
pela complexidade digital: a fraude foi pré-programada no algoritmo do controlo
de emissões. Como os computadores permitem novas formas de fraude, a aldrabice foi
encapsulada no software para ludibriar os próprios testes. Como o software é
"inteligente", comparativamente com os objetos normais, a fraude pode
ser subtil e muito difícil de detectar. Temos muitos exemplos de fabricantes de
smartphones que ludibriam os testes
de velocidade dos processadores, para ficarem bem na foto do benchmark com a concorrência.
Como a
Internet das Coisas (IoT) está a chegar, são muitas as indústrias que estão a
incorporar computadores nos dispositivos dos seus produtos, criando novas
oportunidades para os fabricantes entrarem em caminhos da fraude. Por exemplo,
um lâmpada inteligente pode enganar os reguladores, “parecendo” mais eficiente
energeticamente do que realmente é. E se os sensores de temperatura enganarem
os compradores, fazendo-os crer que o alimento foi armazenado a temperaturas
seguras, contrariamente às que de facto foram. E quanto ao voto electrónico ?
Receio
que este caso da VW venha a ser considerado um acidente. A qualidade global do
software é critica, verificando-se milhares de erros de programação. Muitos
deles não afectam as operações normais, por isso o software genérico funciona
sem problemas de maior, no entanto precisa de atualizações periódicas. Se alguém
quiser passar software batoteiro, integrando-o numa atualização que corrige um
erro de programação, a aldrabice, quando detectada, vai aparecer como um
acidente. Ora, o assustador disto é que este processo é muito mais fácil do que
as pessoas pensam.
A
segurança convencional de computadores está preparada para outro paradigma: hackers que violam acessos. Precisamos
de uma melhor verificação do software que controla as nossas vidas. Isso passa
por mais transparência e fiscalização (continua).
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