Precisamos
de uma melhor verificação do software que controla as nossas vidas. Isso passa
por mais transparência e fiscalização. A transparência significa, por exemplo,
disponibilizar o código fonte (software) para análise. É apenas um primeiro
passo, pois, como a comunidade de código open-source
bem sabe, o código, para além de disponível, tem de ser analisado. Mas, como o
software é muito complexo, a sua análise é muito limitada por organismos reguladores,
devendo o processo ser aberto a instituições da comunidade científica e
privadas. No fundo, o código fonte deve estar disponível para toda a gente.
No
entanto, a transparência e a fiscalização no mundo do software esbarra na
natureza proprietária de muitos sistemas, invocando as empresas o direito de
proteger os seus interesses. Contudo, os interesses públicos de muito desse software
tem de se sobrepor a este “fechamento”, especialmente no software de serviços
críticos: dispositivos médicos, sistemas de voo, sistemas de transporte,
sistemas de energia, etc. Esta cedência do controlo aos algoritmos-software em
serviços críticos, que controlam as nossa vidas, tem de ter mais transparência,
para verificarmos que não nos estão a ludibriar.
Hoje,
tudo é electrónico num carro. Existem cerca de 70 minicomputadores que
controlam motor, portas, travões, luzes, rádio, etc. Como refere um engenheiro,
português, especialista em automóveis: “Por
lei, e moralmente, não se podem usar Defeat Devices que aumentem as emissões, isto é, qualquer coisa que
saiba quando o carro está num laboratório de testes ou na estrada e por isso
mesmo use calibrações diferentes, que fazem com que as emissões sejam mais
baixas no laboratório do que na estrada.” E continua: “um exemplo é o controlo da válvula EGR.” E explica a fraude no
algoritmo-software: “a válvula EGR
diminui a performance e pode aumentar o consumo de combustível, quando está
ativa. Se o carro estiver a ser testado no laboratório a uma velocidade
relativamente baixa tem a válvula EGR aberta, para diminuir NOx, e nas mesmas
condições na estrada tem a válvula EGR fechada, para melhorar a performance,
porque detectou automaticamente que não estava em laboratório”.
Relembro
que os NOx (monóxidos e dióxidos de azoto) são bastante prejudiciais para a
saúde das pessoas, e, também, “ajudam” a formar as chamadas chuvas ácidas.
Software fraudulento como este é fácil de fazer e difícil de provar. Gera
biliões de lucros e milhões de prémios para os executivos dispostos a mentir e
a enganar. Alguns são julgados, condenados e presos, como, por exemplo, Stewart
Parnell dono da Peanut Corporation of America, que foi condenado em
28 anos em setembro de 2015.
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