terça-feira, 20 de outubro de 2015

Volkswagen e Software Fraudulento (2) (Diário de Aveiro, supl. Economia, 20/10/2015)

Precisamos de uma melhor verificação do software que controla as nossas vidas. Isso passa por mais transparência e fiscalização. A transparência significa, por exemplo, disponibilizar o código fonte (software) para análise. É apenas um primeiro passo, pois, como a comunidade de código open-source bem sabe, o código, para além de disponível, tem de ser analisado. Mas, como o software é muito complexo, a sua análise é muito limitada por organismos reguladores, devendo o processo ser aberto a instituições da comunidade científica e privadas. No fundo, o código fonte deve estar disponível para toda a gente.
No entanto, a transparência e a fiscalização no mundo do software esbarra na natureza proprietária de muitos sistemas, invocando as empresas o direito de proteger os seus interesses. Contudo, os interesses públicos de muito desse software tem de se sobrepor a este “fechamento”, especialmente no software de serviços críticos: dispositivos médicos, sistemas de voo, sistemas de transporte, sistemas de energia, etc. Esta cedência do controlo aos algoritmos-software em serviços críticos, que controlam as nossa vidas, tem de ter mais transparência, para verificarmos que não nos estão a ludibriar.
Hoje, tudo é electrónico num carro. Existem cerca de 70 minicomputadores que controlam motor, portas, travões, luzes, rádio, etc. Como refere um engenheiro, português, especialista em automóveis: “Por lei, e moralmente, não se podem usar Defeat Devices que aumentem as emissões, isto é, qualquer coisa que saiba quando o carro está num laboratório de testes ou na estrada e por isso mesmo use calibrações diferentes, que fazem com que as emissões sejam mais baixas no laboratório do que na estrada.” E continua: “um exemplo é o controlo da válvula EGR.” E explica a fraude no algoritmo-software: “a válvula EGR diminui a performance e pode aumentar o consumo de combustível, quando está ativa. Se o carro estiver a ser testado no laboratório a uma velocidade relativamente baixa tem a válvula EGR aberta, para diminuir NOx, e nas mesmas condições na estrada tem a válvula EGR fechada, para melhorar a performance, porque detectou automaticamente que não estava em laboratório”.

Relembro que os NOx (monóxidos e dióxidos de azoto) são bastante prejudiciais para a saúde das pessoas, e, também, “ajudam” a formar as chamadas chuvas ácidas. Software fraudulento como este é fácil de fazer e difícil de provar. Gera biliões de lucros e milhões de prémios para os executivos dispostos a mentir e a enganar. Alguns são julgados, condenados e presos, como, por exemplo, Stewart Parnell dono da Peanut Corporation of America, que foi  condenado em 28 anos em setembro de 2015.

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