quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Maiores de 23: a Revolução de Veludo do Ministro Mariano Gago?

Tens mais de 23 anos e queres ingressar num curso de ensino superior? Desde o ano lectivo de 2006/2007 que Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Professor Mariano Gago, e a sua equipa procederam à reorganização do acesso ad-hoc por via de um subtil decreto-lei, o 64/2006 de 21 de Março, que fixou as condições para acesso ao ensino superior para maiores de 23 anos. Do 25 anos baixaram para os 23 e deram autonomia às instituições de ensino superior (IES) para gerirem os seus processos de candidatura e a avaliação da capacidade para o ingresso. Ou seja, cada IES é responsável por gerir os critérios de análise do currículo escolar e profissional de cada candidato, pela realização de uma entrevista e pela realização de provas teóricas e/ou práticas. Quando se caminha para o terceiro ano da sua existência, há que analisar o resultado de um acto de governação. No seu primeiro ano foi alvo de uma acção depreciativa, promotora de segregações entre alunos e criadora de estereótipos (ex: aluno M23) com características de bullying. Não duvido que tenha havido IES's que abriram portas que não deviam, mas não se pode colocar tudo no mesmo saco. O Ministro não gostou e deixou transparecer o seu desagrado, enviando sinais claros para que certas portas nunca mais se voltassem a abrir. Fez bem, apesar de o modelo de financiamento se manter indexado ao número de alunos, podendo levar a estratégias contraditórias com a prestação de um serviço de qualidade. Contudo, este “arejamento” foi, para muitas IES's, como que um tónico, que permitiu que se levantassem das cinzas e criassem dinâmicas regeneradoras. No decurso do segundo ano, as IES's começaram a perceber (estudar) que tipo de clientes (novos) tinham. A caminho do terceiro ano, muitas IES's entenderam os novos públicos e traçaram eixos estratégicos bem dirigidos (para eles), indo ao encontro das suas necessidades, das suas limitações, dos seus problemas e da sua especificidade. Os regimes pós-laboral estão a renascer, após muitas lutas internas nas IES's, o bom senso está a ganhar espaço, absorvendo muitos dos alunos que entram por este regime (maiores de 23). Há muitos trabalhadores que num regime clássico de estudante-trabalhador não conseguiam estudar, mas, hoje, com as dinâmicas em curso o acompanhamento será mais ajustado à sua condição de trabalhador e de estudante. Há mais períodos de aulas ao fim do dia, ao sábado, à distância (elearning), mais tutorais e outros virão por via de processos de inovação. Não confundamos com facilíssimos, será contraproducente, ninguém pode estar interessado neste aspecto: o estudante-trabalhador não se esforça por algo que não terá valor (social, mercado de trabalho, etc) e o professor desiste; apesar de haver sempre “alguns” que é apenas “isto” que procuram. O crescimento deste público tem sido exponencial, em virtude de todas as IES's, quer sejam politécnicos quer sejam universidades, terem aderido e estarem a dinamizarem processos muito competitivos e diferenciadores. A margem de progressão, quer em quantidade de alunos quer em qualidade de serviço, é elevada, necessitando de maior orientação para este alvo e reforço da ligação às comunidades e aos seus agentes institucionais, empresariais, etc.
Será este o eixo de maior (oportunidade) de mudança no contexto de Bolonha? Os indicadores estão a dar sinais muito positivos. Terá sido este inovador regime o verdadeiro motor de restruturação de parte significativa do sector de ensino superior? Será que esta suave mudança levará à revolução de veludo do Ministro Mariano Gago? Começo a acreditar que sim!

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Linha do Tua - Comunicado relativo à reunião de 25/7/08

O Movimento Cívico pela Linha do Tua (MCLT) agradece a todos os que estiveram presentes na Casa Regional dos Transmontanos e Alto-Durienses do Porto, no passado dia 25 de Julho, participando activamente no debate público sobre a Linha do Tua, bem como aos responsáveis deste lugar simbólico localizado no coração do Porto, que reúne os transmontanos residentes na área metropolitana da cidade. (ler + ...)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Linha do Tua - dedate público - Porto - 25/7/2008

Há muito que não escrevo neste espaço. Nota-se!
É para não escrever (sobre) evidências que estou parado. Além disso, o sector terciário da educação está falido e mal gerido, como venho escrevendo há muito tempo. No sector secundário acabaram os problemas: as notas "melhoraram" bastante; há muito menos alunos a abandonar; tudo são "novas oportunidades" que irão "alimentar" o sector terciário (de onde recebo parte do meu ordenado). No sector primário também não há problemas: o QREN vai "renovar" instalações; as criancinhas vão ter melhores professores, porque serão menos; vai haver mais internet e quadros interactivos multimédia (QIM); etecetra. Por isso, tenho passado algum tempo a "explicar" aos futuros professores do pré-escolar, do 1º ciclo e do 2º ciclo para que servem os QIM (em 2010 vai haver 1 por cada 3 salas), dando a minha contribuição para que os financiamentos públicos não venha a cair num saco roto, ie não se transformem em mais um biblô na sala de aula. Foi interessante, haverá mais de 100 (potenciais) professores, em 2010, com "potencial de reflexão" sobre como "usar" estas ferramentas numa estratégia (ensino aprendizagem).

Mas, hoje, o que me levou a escrever foi a Linha do TUA, ou melhor a sua condenação à morte. Amanhã, dia 25/7/2008, às 21h, vai haver um debate público no Porto.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

"Não precisamos de boas estatísticas, precisamos de bons alunos"

Não precisamos de boas estatísticas, precisamos de bons alunos
José Manuel Fernandes - 20080619 - Director do Público
Três anos e meio depois, é cada vez mais claro que uma mulher que se apresentou como grande reformadora do sistema educacional há muito que passou a funcionar apenas em função dos resultados estatísticos que puder apresentarQuando Maria de Lurdes Rodrigues foi nomeada ministra da Educação pouco se sabia da sua experiência política excepto que, como colaboradora de Mariano Gago no tempo em que este passara pelo Ministério da Ciência, realizara um trabalho competente de sistematização estatística. Na pequena ficha que, a 5 de Março de 2005, se escrevia no PÚBLICO sobre esta figura ainda desconhecida da opinião pública referia-se que "a socióloga Maria de Lurdes Rodrigues, 48 anos, foi a primeira presidente do Observatório das Ciências e das Tecnologias, criado em 1997 por Mariano Gago" e que "a sua função era recolher estatísticas sobre a actividade científica portuguesa".
Três anos e meio depois, é cada vez mais claro que uma mulher que se apresentou como grande reformadora do sistema educacional, e que tomou algumas medidas correctas e importantes no início do seu mandato, há muito que passou a funcionar apenas em função dos resultados estatísticos que puder apresentar. Só assim se compreende a forma agressiva como, nos últimos tempos, tem reagido a todas as críticas, vindas quer das associações de professores (não confundir com sindicatos), quer das sociedades científicas sobre o caminho que está a seguir para conseguir essas estatísticas. Mais exactamente: sobre o facto de uma ministra que tem dito que deseja dificultar a possibilidade de "reter" um aluno que não tem as competências mínimas para passar de ano ter criado um clima que permite que o nível de exigência nas provas de aferição e nos exames nacionais do 9.º e 12.º anos possa estar a descer. E só dizemos "possa estar" e não que está mesmo a descer porque neste domínio se recomenda um cuidado que não é compaginável com a arrogância. Esta fica para os responsáveis do ministério e pode bem caracterizar a forma como ontem tanto a ministra, como o director do Gave - o gabinete responsável pelas provas - reagiram às críticas quer da Associação de Professores de Português, quer da Sociedade Portuguesa de Matemática.
Se os nossos estudantes tivessem evoluído de forma gradual, ao longo do mandato deste Governo, passando de elevados percentagens de provas de aferição negativas no 4.º e 6.º anos tanto a Matemática como a Português, estaríamos aqui a celebrar: todos desejamos melhores níveis de aprendizagem ao longo de todo o ciclo de ensino.
Agora aquilo que surpreende é que se celebre, como a ministra fez, um salto inverosímil na qualidade das aprendizagens - de repente as negativas a Matemática passam para metade nos 4.º e 6.º anos - quando as indicações vindas da evolução do sistema ainda o ano passado iam em direcção contrária, pois o famoso plano de recuperação que já estava em marcha não tivera qualquer efeito nos exames do 9.º ano, onde os resultados haviam piorado. Será que tal plano só teve efeito nos primeiros ciclos? Ou será que, como defende uma sociedade científica dirigida por um matemático cujas qualidades como divulgador foram este anos premiadas a nível europeu, os exames eram demasiado elementares?

Ainda antes de conhecer os resultados das provas já a SPM havia levantado o problema. Não ficou à espera dos resultados para dar a sua opinião: pronunciou-se a tempo e horas. E sem o fazer na base do ataque pessoal ou de carácter, ao contrário do que ontem fez o director do Gave, Carlos Pinto Ferreira, a quem não se conhecem competências para dizer que alguém como o presidente da SPM, Nuno Crato, deve ser uma pessoa "que de certeza absoluta não sabe nada de avaliação educativa".
A incapacidade de suportar a crítica e de responder com argumentos sérios, fundamentados e detalhados marcou de resto o discurso de ontem dos responsáveis ministeriais e pode até ser a explicação para o que resulta de incompetência ou de golpe de baixa política: não enviar os critérios de correcção às associações de professores, impedindo-as assim de se pronunciarem a tempo e horas para os meios de comunicação social. Será por recearem ser criticados? Ou por retaliação face a críticas anteriores?
Esperava-se que face a um tema tão importante como a avaliação do processo de avaliação o ministério actuasse com mais transparência a abertura à crítica, até porque esta tem sido feita de forma construtiva. Tal como não se esperavam comportamentos que indiciam reacções do tipo "quem se mete com o PS, leva".

sábado, 31 de maio de 2008

A Falta de Cooperação (1)

Após um período de retiro, retomo a actividade neste blog. A paragem não se ficou a dever a nenhuma depressão, motivada pela grave crise económica, de valores e de ideias inovadoras. Hoje, perdeu-se (ou adiou-se?) a hipótese de iniciarmos um ciclo para redução do estado. Por isso, iniciarei uma série de post sobre a "falta de cooperação".

Segundo a Wikipédia, a enciclopédia livre, a “Cooperação, no contexto da economia e sociologia, é uma relação de entreajuda entre indivíduos e/ou entidades, no sentido de alcançar objectivos comuns, utilizando métodos mais ou menos consensuais”. Ora, a falta de cooperação é um elemento de explicação corrente sobre insucessos, problemas, lacunas, défices, dificuldades, etc. Vejamos alguns casos exemplificativos.
No site da Presidência da República, a propósito do desenvolvimento da biotecnologia, diagnostica-se que este dependerá dos progressos realizados em três vertentes fundamentais, dos quais saliento “o combate à fragmentação (traduzida pela falta de cooperação entre o sistema de investigação científica e a indústria, pela falta de cooperação entre empresas europeias e pela falta de cooperação entre instituições de investigação europeias)”.
Numa recente Conferência Internacional sobre o ensino da Matemática, os Professores desta disciplina evidenciaram que o “falarem mais entre eles”, quer os de escolas diferentes quer os que leccionam em ciclos diferente (primeiro, segundo, etc), resultaram muitos exemplos de boas práticas. Sendo esta colaboração recente, retenho uma nota do jornal Público (8.5.2008) com declarações de uma professora sobre a falta de cooperação com outros professores de uma escola vizinha à sua: “Claro que já podia ter feito este contacto, mas sabem como nós, os professores, somos tão distraídos”.